segunda-feira, 5 de maio de 2008

Quem disse que liberdade não dói?

Deixar meu corpo nas mãos de outras pessoas com quem tenho ligação ou não, passava pela minha cabeça apenas como uma atitude admirável até certo ponto: enquanto quem o fizesse não fosse eu.

A sensação inexplicável de impotência, embora tudo possa ser parado a qualquer momento, é dominante nesse contexto. E mais uma vez me deixo levar por minha corajosa covardia. Sentia que, à cada ação realizada, uma parte da minha consciência, que se mostrava desmontada feito um quebra-cabeças, ia tomando seu lugar novamente, como se precisasse que certas coisas que à outros olhos eram óbvias fosse passadas em minha face para que pudesse notá-las.

O contexto do "nascimento" da performance foi justamente esse: coisas fora do lugar. Como se eu quisesse me punir por acontecimentos que, embora não dependessem da minha vontade me incomodavam imensamente, e não tivesse coragem de fazê-lo. Hoje tinha resolvido não deixar que nada disso me atingisse, mas a vontade de colocar o planejado em prática foi maior.

Via, em apenas quatro faces, nuances de medo, cuidado, receio e prazer. A cada sensação percebida minhas forças aumentavam como se as usasse como combustível para o exercício da minha crueldade. Nunca imaginei ser tão cruel comigo mesma a ponto de entragar meu corpo nas mãos de outras pessoas, mas imaginava tudo ou quase tudo que elas poderiam fazer comigo.

Talvez esse seja o início de um longo estudo sobre esse tipo de sensação, ou talvez não. Há minutos atrás, disse com toda a certeza que o repetiria, mas não sei mais. Não me orgulho do que fiz por ir contra todos os meus princípios de preservação do meu corpo, mas ao mesmo tempo me orgulho por ter dado um passo a mais. Hoje decidi que não haveriam dores e nem medos que me impedissem de ir além.

Agora sinto o meu corpo, músculo a músculo, osso a osso, está apático às dores que tomam conta dele como numa espécie de purificação, talvez nem ele (ou eu mesma) tenha se dado conta do acontecido, agora me restam dores, marcas e lembranças de rostos que me passavam várias sensações, esses fatores aparecem como flashs que invadem esse corpo e essa mente em unidade.

Não sinto nada além do meu próprio corpo.

Um comentário:

meL disse...

É, acho que posso dizer que foi uma experiência parecida com a minha. Um pouco mais além, convenhamos, mas a mesma intenção de entrega do corpo.
A liberdade dói quando a do outro toca (interfere) na sua.